E o blog foi citado!!!
Muito bacana a matéria do jornalista Jose Orenstein
http://blogs.estadao.com.br/paladar/refeicao-instantanea/
Refeição instantânea
- 4 de outubro de 2012
- Por Jose Orenstein
O prato chega à mesa. A barriga ronca de fome. Mas o primitivo instinto humano de atacar a comida que aparece à frente dá lugar a um clique: o comensal saca o telefone celular, ajeita-se para o melhor ângulo e tira uma foto.O gesto é cada vez mais comum nos restaurantes pelo mundo. Na rede Instagram, a forma mais popular de compartilhamento de imagens de celular com apenas dois anos de existência, as fotos de comida são onipresentes. Neste início de mês, são 12 milhões de fotos marcadas com a hashtag “food”– só que a maioria das pessoas não cria palavras-chave para marcar suas fotos. Ou seja: não é irrazoável supor que haja centenas de milhões de fotos de comida na rede. Some-se a isso incontáveis blogs pessoais de gourmets, gastrônomos e simpatizantes e chega-se a uma conta exorbitante. Mas por que a mania?
Comida apela aos desejos, fala aos sentidos e atiça quem vê, e talvez por isso seja tão atraente. Mas comida sempre foi objeto de partilha. Mesa é para ser dividida e todo mundo gosta de contar suas experiências. Nada mais adequado ao espírito da era digital: a internet e as redes sociais são, por excelência, o lugar do compartilhamento.
“No plano simbólico, o ritual do comer junto – umas das coisas mais presentes em todas as culturas – é revivificado. As pessoas partilham a experiência de estar diante de algo belo e que inspira prazer”, diz Lucia Leão, professora de Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Para ela, essa necessidade de dividir as imagens do que se come diz respeito a uma necessidade anterior e atualíssima: dividir experiências da própria vida na rede.
O publicitário Renato Chvindelman está entre os que usam a tecnologia para compartilhar com os amigos o que vê e – principalmente – o que come. Ele tem um blog (Foods Around the World), Instagram, Twitter e Facebook. Almoça fora todo dia, frequenta restaurantes no fim de semana, viaja e também se arrisca na cozinha. Sempre a tirar fotos e, às vezes, escrevendo textos relatando o que provou. “Quando ponho na internet é porque acho que meus amigos gostariam daquilo que estou comendo. Mas o que faço é amador, não tem nada comercial.”
Já com uma pegada mais profissional, o site Destemperados reúne relatos de “foodhunters” pelo Brasil. Nascido em 2007, em Porto Alegre, o projeto virou referência na rede por ser um dos primeiros a perceber – como consta da definição do próprio site – que “gastronomia é muito mais do que comida: é cultura, é entretenimento, é estilo de vida”. Os colaboradores contam suas experiências gastronômicas e, claro, tiram fotos – sem nenhuma produção, sem combinar com o dono do restaurante, garante Diogo Carvalho, sócio do site. “As pessoas não estão mais sozinhas em nenhuma lugar. Estão acompanhadas dos amigos das redes sociais e querem compartilhar tudo com eles”, diz.
Só que há os que exageram na dose. “Tem uma questão de inserção social, de exibir o que está fazendo ou comendo. A vida é muito mais bonita pelos filtros do Instagram. É o Leblon das pessoas, onde tudo é mais bonito”, afirma Diogo. De fato, as redes sociais dão espaço ao exibicionismo, ao narcisismo. É notável a avidez com que alguns postam fotos dos refinados restaurantes que frequentam.
“Hoje comer virou bacana. Tem os que tiram foto para fazer inveja nos outros”, diz Codo Meletti, fotógrafo que trabalha com comida desde 1998. “Paradoxalmente, a comida não é só para ser comida. Vira um objeto de ostentação e, a partir daí, pode virar até obsessão. Se você não colocar a imagem na rede, parece que não comeu”, diz a semióloga Lucia Leão.
De uma forma ou de outra, um novo jeito de se aproximar da gastronomia reflete-se na popularização das fotos de comida, nos blogs com relatos de idas a restaurantes. Há redes sociais e projetos específicos sobre o assunto (leia abaixo). E já que é para documentar o que se come, que se faça bem feito – as dicas para o bom clique estão à direita.
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